Cultura
A cultura vem, cada vez mais, ganhando espaço na Faculdade de Farmácia. Por ocasião do 70 anos de Farmácia, tivemos a inauguração da estrutura para realização de exposições culturais no edifício da Faculdade de Farmácia com o a Exposição do Concurso Cultural.
Confira as Narrativas, as Poesias e as Fotografias ganhadoras do concurso.
Conheça o texto do Poeta Miguel Jorge, Farmacêutico, redigiu em homenagem aos 60 anos da FF-UFG.
POEMA PARA FACULDADE DE FARMÁCIA
NOS SEUS SESSENTA ANOS DE EXISTÊNCIA
Miguel Jorge
Tenho saudades dos deuses da medicina e
da farmácia, que guardam aqui, coração e
corpo, como num cofre, os sonhos da ciência
a luz do conhecimento pulsando no espaço,
como se fosse fogo à luz de ouro.
A herança dos laboratórios, deixada nas salas de aulas,
vocês se lembram? Havia um brilho de cor nos drageamentos
dos comprimidos, e tudo caminhava natural pelos caminhos do
IPF, a essência de tudo pousada sobre a mesa,
Roteiro de nossas mãos ágeis construindo a história da Farmácia.
O mundo visível dos medicamentos me fascinava.
Espantosa batalha de contrastes: poesia e máquinas
conviviam em nós. Uma construindo ilusões, outra melhorando
o mal do mundo, ondas de magnetismo que vinham
e iam em horas sensíveis, na dúplice celebração da ciência e dos afetos.
A metamorfose precisa do tempo, as imagens do momento
que sempre são imagens, nem sempre perfeitas, mais sempre
reais, estrelas que se fazem perpetuamente, e pousam de
ouro e prata em nossas memorias. A voz dos dias, feito rio,
a correr sobre o sol murado do fino aço das janelas.
Apegava-se a este histórico, tantos nomes
aqui fixados com seus históricos de vida,
que são partes de nós. O coração
iluminado de tantas e tantas coisas,
alegre passagem silenciosa
sobre as águas decantadas
das horas.
Assim, existe neste prédio de verdes cores,
o sustentáculo de tantas e tantas gerações, valores
maiores para os quais não existem moedas e nem papeis,
o irreparável desejo de juntar-se à vida, a saudade
indo por onde sempre vão as paisagens feitas de
perfumes e de rosas.
Tudo aqui nos cerca os sonhos que por tanto tempo
ficaram guardadas nas gavetas. A linguagem precisa
humana nas salas de aulas, procurando uma vez mais
o princípio de tudo. E tudo se refaz a cada ano e a cada
ano abrem-se novas ciências, emergidas do conjunto laboratorioso
dos que confiam sua alma à salvação de outras.
Tudo aqui nos aproxima, até a saudade do que
a gente queria, pensava, desejava, a cúmplice
servidão das horas. Estes olhos, de sessenta anos,
postos no passado, que é presente, abrem-se para
as mesmas portas por onde a luz silenciosa se demora,
na mais exata medida de repensar o universo.
Tudo é muito veloz: as lâminas, os barcos, o tempo como
um patrimônio sem herança. O dia a dia de sol, a água
simulada dos caminhos, os tubos de ensaios, os corações
que exultam seus legados.
Em torno destes rostos, ecos de distante canto,
talvez de amor, talvez de primavera, louros
de uma longa jornada, os planos levantados
para novas invenções, secretas, migratórias.
Ouro de um veio que veio
até nós e se fez nosso. E tudo
isso vai no compasso do bater
dos corações cobertos de certezas.
A chama de Galeno, oculta em nosso peito,
anima outras chamas, luminoso mar fechado em
verdes hastes, olhar atento sobre outras portas
que se abrem para o universo aberto da Farmácia.